março.2025

Infraestrutura de acesso às TICs no domicílio, acesso individual à internet e habilidades digitais

A presente edição do boletim Seade SP TIC analisa a infraestrutura de acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) nos domicílios, o acesso individual à internet e as habilidades digitais dos usuários da rede no Estado de São Paulo, com base nos dados da pesquisa TIC Domicílios 2024, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br/NIC.br).1 Os resultados do Estado são cotejados com os dados nacionais, bem como com os anos anteriores, permitindo uma compreensão mais ampla da realidade paulista em relação ao contexto brasileiro.

Os dados revelam que, em 2024 no Estado de São Paulo, 81% dos domicílios possuíam acesso à internet. Em comparação a 2023, essa cobertura registrou tendência de decréscimo nas residências das classes C e D/E2 – estratos cujo comprometimento do orçamento doméstico para custear a conexão com a rede tende a ser maior e oscilações na conectividade podem derivar de diminuições circunstanciais dos rendimentos.

No Estado de São Paulo, em 2024, 83% da população era usuária da internet, percentual similar ao verificado no Brasil. No entanto, os dados da pesquisa revelam uma oscilação decrescente em relação a 2023.

Entre 2023 e 2024, cresceu o acesso à rede realizado exclusivamente pelo celular, em detrimento do seu uso combinado com o computador, reflexo da decrescente presença desses equipamentos nas residências.

As habilidades digitais mais citadas incluem o uso de ferramentas básicas, como copiar e colar (44%) e anexar documentos (43%). Além disso, 54% dos usuários afirmaram adotar medidas de segurança on-line, como o uso de senhas fortes, e 50% demonstraram preocupação com a verificação da veracidade de informações na rede. A pesquisa destaca ainda que 59% dos usuários buscam informações sobre produtos e serviços on-line e 57% realizam transações financeiras digitais, práticas impulsionadas pela popularização de bancos digitais e ferramentas como o Pix.

Os resultados reiteram um cenário em que o acesso à internet e o desenvolvimento de habilidades digitais são influenciados pelo tipo de dispositivo utilizado, classe social e grau de instrução. As conclusões reforçam a necessidade de políticas públicas que contribuam para o acesso equitativo às TICs e o desenvolvimento de competências digitais, essenciais para a inclusão digital.

INFRAESTRUTURA DE ACESSO ÀS TICS NO DOMICÍLIO

Em 2024 no Estado de São Paulo, 81% dos domicílios possuíam acesso à internet, tendência de decréscimo em relação a 2023. Esse comportamento confirma a importância da aferição desse acesso disponível nos domicílios em períodos mais longos. Vale notar que, em comparação ao ano inicial da série analisada (2019), a cobertura do Brasil e em São Paulo registraram crescimento da conexão em domicílios.

Gráfico 1 – Domicílios com acesso à internet

Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2024, em %

Os dados da TIC Domicílios permitem identificar a presença de computadores com acesso à internet e a série analisada demonstra que esse equipamento tende a se tornar menos presente nas residências. No conjunto dos domicílios paulistas, em 2024, 36% das residências conectadas à internet possuíam também computador, sinalizando declínio de 11 p.p. em relação a 2019, início da série analisada. Os dados do Brasil reiteram essa tendência, que pode ser influenciada por uma menor presença de computadores nos domicílios das classes C, em parte associado ao ônus financeiro representado pela necessária reposição desse equipamento, em parte à adoção de comportamentos que, eventualmente, dispensam essa forma de acesso. Essa lacuna pode estar sendo suprida, parcialmente, via acesso pelo celular combinado à conexão via Smart TVs, conforme evidenciado mais à frente.

Gráfico 2 – Domicílios por presença de computador e internet

Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2024, em %

Nota: A soma dos percentuais não atinge 100% devido à exclusão dos domicílios que possuem apenas computador.

ACESSO INDIVIDUAL À INTERNET

O hábito de utilizar a internet para resolução de problemas cotidianos e o uso de aplicativos de mensagens ajudam a explicar a ampliação do acesso à rede nos últimos anos. No Estado de São Paulo, em 2024, 83% da população era usuária da internet,3 percentual similar ao verificado no Brasil. No entanto, os dados da pesquisa revelam uma oscilação decrescente, em relação a 2023, no acesso dos usuários de internet no Estado. Os dados sugerem flutuação especialmente na classe C e naqueles que estudaram apenas até o ensino fundamental,4 o que segue coerente às limitações no acesso à infraestrutura tecnológica anteriormente destacadas.

Gráfico 3 – Usuários da internet

Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2024, em %

Entre 2023 e 2024, cresceu o acesso à rede realizado exclusivamente pelo celular, em detrimento do seu uso combinado com o computador, reflexo da menor presença desses equipamentos nas residências. No biênio analisado, o uso combinado de celulares e computadores oscilou de 57% para 49%. Já o uso exclusivo de aparelhos celulares foi incrementado de 41% para 50%. Esse comportamento é mais comum entre usuários das classes C e D/E, em comparação aos da classe A/B.

Os dados referentes ao Brasil registram estabilidade, com pequena oscilação de dois p.p. na proporção de usuários que utilizam apenas celular. Cabe lembrar que o uso exclusivo do celular para acessar a rede pode representar menor diversidade de uso da internet e acarretar um desenvolvimento mais limitado de habilidades digitais.

Gráfico 4 – Usuários de internet, por dispositivo utilizado de forma exclusiva ou simultânea

Brasil e Estado de São Paulo, 2023-2024, em %

Nota: A soma dos percentuais não atinge 100% devido à exclusão de usuários de internet que utilizaram apenas computador.

Em 2024, a totalidade dos usuários de internet, tanto no conjunto do Brasil como no Estado de São Paulo, utilizavam o celular como dispositivo de acesso à rede, o que denota sua capilaridade, crescente adoção por diferentes classes sociais e relevância na inclusão digital. Já o computador registra utilização maior entre os usuários do Estado (50%) do que no Brasil (40%). O acesso à internet por meio da televisão foi assinalado por 63% dos usuários de rede no Estado e 60% no Brasil, reflexo da popularização das Smart TVs. O acesso à internet por esses aparelhos permite a conexão com plataformas de streaming e canais de conteúdo audiovisual, o que pode explicar o significativo percentual registrado.

Gráfico 5 – Usuários de internet por dispositivo utilizado

Brasil e Estado de São Paulo, 2024, em %

HABILIDADES NO USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS

Habilidades digitais se referem ao conjunto de competências que permitem aos usuários da internet utilizarem as tecnologias de informação e comunicação (TICs) de forma autônoma e segura. Incluem desde o uso básico de ferramentas digitais, como editores de texto e aplicativos de mensagens, até competências mais avançadas, como programação, análise de dados e cibersegurança. No geral, os dados da TIC Domicílios sinalizam que diferenças observadas no exercício das habilidades digitais tendem a ser associadas não somente à idade e instrução dos usuários, mas também aos dispositivos usados para acessar a internet. Em suma, usuários que acessam a rede por múltiplos dispositivos tendem a demonstrar mais habilidades do que aqueles que utilizam exclusivamente o celular.

De acordo com a TIC Domicílios 2024, as habilidades de disseminação de conteúdo digital mais citadas, em São Paulo, foram: usar ferramentas de copiar e colar (44% dos entrevistados); anexar documentos e vídeos em mensagens (43%); e postar textos, imagens, fotos, vídeos ou músicas na internet (39%). Apesar de relativamente estáveis em relação a 2023, houve decréscimo de 15 p.p. na proporção de usuários que usam ferramentas de copiar e colar, ação mais comumente realizada em computadores, equipamentos cuja presença nos domicílios se encontra em declínio.

De forma esperada, são menos usuais as tarefas que exigem maior domínio ou técnica, ou mesmo associadas aos estudos e ao trabalho, tais como mostram os dados de São Paulo: criar slides de apresentação (23%); usar fórmulas em planilha de cálculo (22%); desenvolver programas (17%); e criar/atualizar blogs ou páginas da internet (16%).

Praticamente não há diferenças significativas no uso dessas habilidades entre os residentes no Estado de São Paulo e no Brasil, embora anexar documentos, fotos ou vídeos em mensagens se mostre mais frequente no Estado.

Gráfico 6 – Usuários de internet, por tipos de habilidades digitais

Brasil e Estado de São Paulo, 2023-2024, em %

No conjunto de habilidades digitais pesquisadas, os entrevistados foram indagados ainda sobre instalação de programas de computador ou aplicativos de celular (35%), transferência de arquivos ou aplicativos entre dispositivos pela nuvem (34%) e conexão ou instalação de novos equipamentos (30%).

Na comparação do biênio 2023-2024, há tendência de decréscimo na prática de instalar programas de computador ou aplicativos de celular, provavelmente em decorrência da menor presença relativa de computadores nos domicílios. Como reiteram os dados da pesquisa, os usuários da internet acessam a rede majoritariamente por celulares, com tendência crescente de conexão por Smart TVs e declínio na proporção de usuários que acessam por computadores.

Ainda na comparação do biênio, cresce a proporção de usuários que reportam conectar ou instalar novos equipamentos, provavelmente dispositivos eletrônicos portáteis populares como fones de ouvido sem fio ou caixas de som com Bluetooth.

Os residentes no Estado de São Paulo apresentam adesão superior ao registrado no Brasil nas práticas de transferir arquivos entre dispositivos e conectar ou instalar novos equipamentos.

Gráfico 7 – Usuários de internet, por habilidades de instalação de programas ou equipamentos e transferência de arquivos ou aplicativos

Brasil e Estado de São Paulo, 2023-2024, em %

A preocupação crescente com a segurança associada ao uso dos dispositivos de acesso à internet, aliada às medidas de proteção implementadas pelas plataformas digitais, levou mais da metade dos usuários da rede (54%) em São Paulo a adotarem medidas de segurança, como senhas fortes ou verificação em duas etapas. Além disso, 42% dos usuários declararam ter mudado as configurações de privacidade em seus dispositivos. Metade dos usuários da internet residentes no Estado verificou se uma informação disseminada na rede é verdadeira, sinalizando preocupação com a desinformação e o efeito das fake news.

Não foram registradas diferenças significativas entre os usuários no Estado de São Paulo e no Brasil, embora a adoção de medidas de segurança nos dispositivos seja ligeiramente superior no Estado.

Gráfico 8 – Usuários de internet, por habilidades relacionadas à provisão de segurança nos usos da rede

Brasil e Estado de São Paulo, 2024, em %

A busca por informações sobre produtos e serviços na internet é uma das práticas mais comuns entre os usuários, tanto no Estado de São Paulo (59%) quanto no Brasil (56%). A leitura de jornais, revistas ou notícias on-line foi mencionada por 56% dos residentes do Estado, enquanto 45% buscaram informações sobre saúde ou serviços de saúde.

A realização de consultas, pagamentos e outras transações financeiras foi reportada por 57% dos usuários em São Paulo, patamar similar ao registrado no nível nacional. Essas transações compreendem hábitos cada vez mais corriqueiros, como movimentações via Pix e bancos digitais, entre outras práticas.

A proporção de usuários que procurou informações sobre saúde ou serviços de saúde tende a ser superior no Brasil, em comparação com o Estado de São Paulo, no entanto essa diferença é pouco significativa estatisticamente.

Gráfico 9 – Usuários de internet, por habilidades de procurar informações e realizar transações financeiras

Brasil e Estado de São Paulo, 2024, em %

Fonte: Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br)/Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros – TIC Domicílios 2024; Fundação Seade.

 

Notas:
1. Os dados são originários da Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros – TIC Domicílios 2024, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). O universo da pesquisa é composto por domicílios particulares permanentes brasileiros e pela população com dez anos de idade ou mais residente nesses domicílios no Brasil. Nesse estudo foram calculadas as estimativas para o Estado de São Paulo separadamente, no âmbito do plano de trabalho do convênio entre a Fundação Seade e o Cetic.br|NIC.br.
2. A noção de classe social aqui utilizada corresponde à divisão em A/B, C e D/E, conforme o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep). A Abep utiliza para tal classificação a posse de alguns itens duráveis de consumo doméstico e grau de instrução do chefe do domicílio. Disponível em: https://abep.org/wp-ontent/uploads/2024/09/01_ cceb_2024.pdf. Acesso em: 25 fev.2025.
3. A pesquisa define como usuário de internet o indivíduo que utilizou a rede há menos de três meses em relação ao momento da entrevista, conforme definição da União Internacional de Telecomunicações (2020).
4. O plano amostral da Pesquisa TIC Domicílios é dimensionada para o Brasil. Em razão desse desenho, os indicadores para o Estado de São Paulo apresentam estimativas de margens de erro superiores ao recorte nacional, explicando o cuidado observado na desagregação e análise dos resultados. Ref.: NIC.br; Cetic.br. Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nos domicílios brasileiros – TIC Domicílios 2023. Disponível em: https://cetic.br/pt/publicacao/pesquisa-sobre-o-uso-das-tecnologias-de-informacao-e-comunicacao-nos-domicilios-brasileiros-tic-domicilios-2023/. Acesso em: 25 fev. 2025, p. 45, erros amostrais.

 

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