A presente edição do Seade SP TIC analisa as atividades realizadas na internet pelos residentes no Estado de São Paulo, a partir dos dados da pesquisa TIC Domicílios1 de 2019 e 2020.2
Números anteriores do boletim demonstraram aumento da demanda por internet nos domicílios, investimentos na aquisição de equipamentos informáticos e ampliação no número de usuários da rede, que somavam, em 2020, cerca de 32 milhões3 de residentes no Estado com dez anos ou mais (83%). Ainda nesse período, mais usuários passaram a diversificar as formas de utilização da web, houve expansão do uso de celulares e aumento na adesão ao modelo pós-pago.4
Os dados da presente edição indicam a diversificação e ampliação dos usos da internet, no período recente, como envio de mensagens, chamada de voz, vídeos e utilização de aplicações multimídias. São usos de maior frequência, inclusive, facilmente realizados por meio de celular.
Por outro lado, atividades relacionadas ao exercício do trabalho, acesso a serviços públicos e realização de cursos à distância, embora crescentes no período, são menos frequentes, em parte, porque requerem melhores condições de acesso à internet, sendo mais comumente observadas entre as classes5 de rendimento A/B.
Desse modo, os dados da pesquisa sinalizam mudanças no uso da rede, cuja tendência é mais acentuada em São Paulo do que no restante do país. No entanto, é necessário que a sinalização de intensificação de atividades na internet, inclusive governo digital, seja acompanhada nas próximas tomadas da TIC Domicílios, com o intuito de averiguar se essa tendência se mantém.
Assim como na edição anterior do Seade SP TIC, os dados de São Paulo são cotejados com os do Brasil para auxiliar na compreensão da realidade paulista.
Atividades de comunicação
Atividades de comunicação foram as mais frequentes entre os usuários de internet do Estado de São Paulo, em 2020, sendo o envio de mensagens instantâneas efetuado por 96% dos usuários, seguido por chamadas de voz ou vídeo (84%) e uso de redes sociais (76%).
A substituição das chamadas telefônicas pelo uso de aplicativos de mensagens e sua crescente popularização, somadas às restrições de mobilidade exigidas pela pandemia, sustentaram a tendência de ampliação do envio de mensagens e chamadas de voz/vídeo, no período considerado, ocorrida independentemente da classe social.
Necessário recordar que em torno da metade dos usuários da internet no Estado acessa a rede exclusivamente por meio de telefones celulares,6 sendo que a realização de chamadas de voz/vídeo ocorre majoritariamente por este dispositivo.
As taxas do Brasil são próximas às paulistas, reflexo da capilaridade no acesso a esses dispositivos móveis no país.
Gráfico 1 – Usuários de internet, segundo atividades de comunicação realizadas
Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2020, em %
Informações de saúde e transações financeiras
Além da comunicação, observou-se tendência de migração de outras atividades para o ambiente on-line. A busca por informações relacionadas à saúde (58%) e a realização de consultas, pagamentos e transações financeiras (50%) estiveram entre as principais atividades na internet, ambas com perceptível elevação (em torno de 4,8 milhões de pessoas7) em relação a 2019.
Esse comportamento pode ter sido impulsionado pelas medidas referentes à pandemia, como as restrições de atendimento na rede bancária, mas sobretudo reflete o crescente uso de aplicativos e popularização de serviços como o Pix. Contudo, seu uso é notadamente mais habitual entre as classes A/B, estratos que efetivamente têm acesso aos produtos e serviços fornecidos por instituições financeiras.
A maior procura por informações de saúde provavelmente esteve associada aos esforços de prevenção e tratamento da morbidade associada ao coronavírus, reforçando oportunidades no uso das TICs.
As taxas do Brasil são inferiores às paulistas, apesar de registrarem tendência de crescimento similar, o que aponta a disseminação no uso da rede para serviços financeiros e busca de informações propiciado pela conexão à internet.
Gráfico 2 – Usuários de internet, segundo atividades de consultas, pagamentos, outras transações e busca de informações realizadas
Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2020, em %
Sites governamentais e serviços públicos
O acesso a serviços públicos pela internet ampliou-se em 2020, em função do lançamento de novas aplicações on-line, que substituem o atendimento presencial, como o pagamento do auxílio emergencial, prova de vida digital, carteiras digitais de trânsito e de trabalho.
Em São Paulo, metade dos usuários da internet procurou informações em sites governamentais e 45% realizaram algum serviço público on-line, em 2020. No entanto, este último serviço foi utilizado, aproximadamente, por apenas um a cada dez internautas paulistas das classes D e E. Assim, observa-se incremento da interação remota com serviços públicos, em comparação a 2019, mas esse usufruto ainda é bastante desigual entre as diferentes classes sociais.
Tal comportamento sugere que, apesar de os patamares paulistas superarem os nacionais, provavelmente em razão da oferta de melhores equipamentos e qualidade da conexão, isso não tem sido suficiente para romper a associação entre desigualdade de renda e de oportunidades. Nota-se que limitações no acesso aos serviços de governo eletrônico tendem a reforçar assimetria social, já que o e-gov gera economia de diversos recursos, como tempo e dispêndio com deslocamentos.
Gráfico 3 – Usuários de internet, segundo atividades de interação com autoridades públicas realizadas
Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2020, em %
Atividades multimídia
O consumo de conteúdo multimídia on-line também cresceu em 2020, como provável consequência das limitações às atividades de entretenimento em espaços públicos e da necessidade de buscar
notícias em tempos de pandemia. É notável a disseminação de hábitos como assistir programas/vídeos na internet e ler notícias on-line entre os usuários de internet paulistas, ocorrida no biênio analisado.
O ritmo de crescimento e as proporções dos que informaram acessar conteúdo multimídia em São Paulo são superiores aos usuários de internet do Brasil. Esse comportamento tende a expressar preferências e capacidades individuais, mas também as distintas oportunidades no acesso às tecnologias de conexão, influenciadas pelo poder aquisitivo de parcelas dos usuários e pelas condições socioeconômicas diversas entre as regiões do país.
Gráfico 4 – Usuários de internet, segundo atividades de multimídia realizadas
Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2020, em %
Educação, cursos e atividades de trabalho
Praticamente dobrou a parcela de usuários de internet em São Paulo que fizeram cursos à distância, modalidade que passou a ser usufruída por 27% desse contingente, em 2020. Mas são as pesquisas ou atividades escolares, realizadas majoritariamente entre os segmentos etários em fase de formação educacional, que seguem mobilizando maior parcela dos usuários (45%), acompanhadas por aqueles que estudavam na rede por conta própria (43%). Esses percentuais podem refletir efeitos das medidas de distanciamento social, que forçaram a adoção do ensino remoto nos diferentes níveis de ensino, do fundamental ao superior. O marcador social de classe, além do etário, também diferencia a realização de atividades educacionais na rede, notadamente mais frequente nos seguimentos A e B.
O uso da rede para atividades de trabalho, bastante impactado pela Covid-19, foi praticado por 36% dos usuários do Estado em 2020, patamar próximo ao registrado no ano anterior. Tal comportamento denota que, apesar da importância do trabalho remoto durante a pandemia, essa modalidade esteve restrita a determinadas atividades profissionais, em geral, associadas à formação de nível superior e de maiores rendimentos.
A adoção da internet como plataforma de aprendizagem também foi observada no Brasil, refletindo de alguma forma a disseminação da rede como ferramenta de estudo e pesquisa, mas que ainda carece da universalização do acesso.
Gráfico 5 – Usuários de internet, segundo atividades de educação e trabalho realizadas
Brasil e Estado de São Paulo, 2019-2020, em %
Criação e compartilhamento de conteúdo
Se, no geral, os usos da internet refletem as condições de acesso às tecnologias, também decorrem das habilidades e preferências dos usuários, associadas ao seu perfil etário, socioeconômico e de
escolaridade. De fato, nota-se que o compartilhamento de conteúdo (79%), ao exigir menos habilidades e recursos, foi mais frequente do que a postagem de materiais autorais (31%) entre os usuários de internet de São Paulo.
Usos destinados à criação ou atualização de blogs/páginas/websites se mantiveram estáveis e em índices similares entre São Paulo e Brasil, sugerindo que essa prática segue restrita a contingentes
com habilidades específicas e acesso a equipamentos tecnológicos compatíveis. Ao que parece, são práticas menos influenciáveis por fatores conjunturais como, no caso, a pandemia.
Gráfico 6 – Usuários de internet, segundo atividades de criação e compartilhamento de conteúdo realizadas
Brasil e Estado de São Paulo – 2019-2020, em %
Notas
1. Os dados são originários da Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Domicílios Brasileiros – TIC Domicílios 2019 e 2020, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). O universo da pesquisa é composto por domicílios particulares permanentes brasileiros e pela população com dez anos de idade ou mais residente nesses domicílios no Brasil. Nesse estudo foram calculadas as estimativas para o Estado de São Paulo separadamente, no âmbito do plano de trabalho do convênio entre a Fundação Seade e o Cetic.br|NIC.br.
2. Existem diferenças na metodologia de coleta entre as edições 2019 e 2020 da TIC Domicílios em razão das limitações impostas pela pandemia e das medidas de isolamento social. Enquanto em 2019 todas as entrevistas previstas na amostra foram realizadas presencialmente, na tomada de 2020 parte delas ocorreu por meio de ligações telefônicas, complementada por entrevistas presenciais no domicílio, de modo a garantir a realização e representatividade da amostra planejada. A coleta da edição 2020 ocorreu entre outubro de 2020 e maio de 2021.
3. Conforme projeções populacionais elaboradas pela Fundação Seade.
4. Disponível em: https://sptic.seade.gov.br/. Acesso em: 01 jun. 2022.
5. Classe social: corresponde à divisão em AB, C e DE, conforme o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep). A Abep utiliza para tal classificação a posse de alguns itens duráveis de consumo doméstico, mais o grau de instrução do chefe do domicílio declarado. Disponível em: https://www.abep.org/criterioBr/01_cceb_2021.pdf. Acesso em: 10 jun. 2022.
6. Disponível em: https://sptic.seade.gov.br/. Acesso em: 01 jun. 2022.
7. Conforme projeções populacionais elaboradas pela Fundação Seade.