Nas últimas décadas, as tecnologias digitais têm assumido um papel fundamental para o acesso à informação e para a promoção do bem-estar, afetando dimensões como a educação, saúde, trabalho e renda, entre outras. Entretanto, o acesso à internet e o seu uso estão distribuídos desigualmente entre o conjunto da população, e estão associados a vulnerabilidades sociais já conhecidas no mundo off-line.
A partir dos dados da pesquisa TIC Domicílios 2019, realizada pelo Cetic.br/NIC.br, a presente análise aferiu e caracterizou a forma de acesso à internet da população paulista, segundo suas condições de vida, dimensionadas pelo Índice Paulista de Vulnerabilidade – IPVS, da Fundação Seade. Os resultados inéditos apontam restrições no acesso à internet e limitações na utilização da web para atividades de trabalho e estudo entre as famílias residentes em áreas socialmente vulneráveis em comparação àquelas que residem em áreas mais favorecidas.
Uso de internet
Em 2019, no Estado de São Paulo, 77% da população com idade de 10 anos ou mais era usuária de internet,1 correspondendo a cerca de 30,5 milhões de pessoas.
Nos estratos de baixa vulnerabilidade,2 o porcentual de usuários alcançou 78%, quase 20 milhões, enquanto naqueles de alta vulnerabilidade tal proporção diminui para 75%, o que equivale a pouco mais de 10 milhões de usuários.
Por outro lado, quase 20% dos paulistas – cerca de 7,5 milhões de pessoas – declararam nunca ter acessado a internet.
Acesso e uso individual da internet no Estado de São Paulo
População pesquisada, por grupos do IPVS, segundo condição de acesso à internet
Estado de São Paulo e RMSP – 2019, em %
Dispositivos utilizados para acessar a internet
Mais da metade dos usuários de internet (53%) acessaram a rede exclusivamente por meio de telefones celulares.
No entanto, a forma de acesso à rede é diferenciada segundo o grau de vulnerabilidade social da população. Entre os moradores de áreas de alta vulnerabilidade social, 67% se conectaram à rede exclusivamente pelo telefone celular, contra 45% dos residentes em áreas de baixa vulnerabilidade social.
Essa desigualdade é ainda maior na Região Metropolitana de São Paulo: enquanto 61% dos usuários residentes em áreas de baixa vulnerabilidade acessaram a rede por meio de celulares e computadores, na alta vulnerabilidade 70% o fizeram somente a partir de telefones celulares.
População pesquisada, por grupos de IPVS, segundo dispositivos utilizados no acesso à internet
Estado de São Paulo e RMSP – 2019, em %
Acesso e uso individual da internet no Estado de São Paulo
Atividades realizadas na internet
Entre os residentes nas áreas de baixa vulnerabilidade social, é maior a proporção de usuários que utilizaram a web para atividades de trabalho (36%) ou estudo (41%). Já nas áreas de alta vulnerabilidade esses porcentuais giram em torno de 30%. Tais resultados podem indicar inserções e tipo de ocupações socialmente distintas entre os segmentos destacados.
Essas desigualdades seguem significativas na RMSP, sobretudo no acesso à rede para iniciativas de estudos, com diferenças da ordem de 20 pontos porcentuais, conforme a condição social do usuário.
Essas modalidades não incluem a realização de cursos a distância, reportada por 13% dos entrevistados, mais frequente nos segmentos de baixa vulnerabilidade (15%) do que nos estratos de alta vulnerabilidade (9%). Estudar a distância é um dos maiores desafios impostos pela pandemia e a pesquisa aponta que os mais vulneráveis saem em desvantagem, em grande medida, pela maior dificuldade de acesso às TICs.
Usuários da rede, por grupos do IPVS, segundo atividades de estudo e trabalho realizadas pela internet
Estado de São Paulo e RMSP – 2019, em %
Acesso à banda larga no domicílio
A maioria dos domicílios do Estado com acesso à internet estava conectada por tecnologias de banda larga fixa (66%) – cerca de 8 milhões de residências.
No entanto, há desigualdades nesse acesso segundo a condição social apurada para o domicílio: 37% daqueles situados em áreas de alta vulnerabilidade social não dispunham desse tipo de conexão – cerca de 1,6 milhão de residências.
Na RMSP, a desigualdade no acesso aos recursos de banda larga fixa se acentua, com 42% dos domicílios (825 mil moradias) em situação de alta vulnerabilidade sem acesso aos benefícios dessa forma de conexão.
Acesso e uso individual da internet no Estado de São Paulo
Domicílios com acesso à internet, por grupos do IPVS, segundo presença de conexão de banda larga fixa
Estado de São Paulo e RMSP – 2019, em %
Tipo de conexão utilizada
O acesso à banda larga fixa entre os domicílios do Estado é representado, sobretudo, pela conexão via cabo de TV ou fibra ótica (50%). Mas essa opção declina entre as moradias em áreas de alta
vulnerabilidade (44%), onde a conexão móvel via chip 3G ou 4G era o tipo disponível para cerca de um quarto dos domicílios.
Esse cenário se intensifica na RMSP, onde, apesar da relevância da conexão via cabo de TV ou fibra ótica, principalmente entre as residências de baixa vulnerabilidade social (52%), a participação da conexão móvel cresce, abrangendo cerca de um terço das residências situadas em áreas de alta vulnerabilidade. Nesse segmento, a opção pela conexão TV a cabo ou fibra ótica alcançou seu menor porcentual (38%) – cerca de 740 mil domicílios – na comparação ao conjunto da metrópole e seus estratos de baixa vulnerabilidade social.
Domicílios com acesso à internet, por grupos do IPVS, segundo tipo de conexão disponível
Estado de São Paulo e RMSP – 2019, em %
Acesso e uso individual da internet no Estado de São Paulo
O Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) é um departamento do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR) que tem a missão de monitorar a adoção das tecnologias de informação e comunicação no Brasil.
A Fundação Seade é a agência paulista de estatísticas que há mais de 40 anos coleta, analisa e dissemina dados sobre o Estado de São Paulo.
Em 2020, as instituições celebraram um convênio para compartilhar informações, aperfeiçoar metodologias e desenvolver pesquisas e análises em conjunto.